terça-feira, 29 de julho de 2008

Mandarina Duck

Són protagonistes
d’uma epopéia que já fou:


[São protagonistas
d’uma epopéia que já foi:

(Manuel Forcano. Pasteres. In: LLei d’estrangeria pg.11. Ed. Proa. Barcelona, 2008)


Há um grotesco espetáculo que ninguém quer assistir.
Um concerto burlesco composto pelos gritos esfaimados de crianças e da solidão que consome a alma, o soluço discreto dos imigrantes que perderam a dignidade, as cores chamativas dos adornos baratos das putas e o gris encardido dos mendigos famintos e imundos nas ruas sujas e tristes do subúrbio das cidades.
Todos temos fome de alguma coisa...
E sou eu, somos nós parte do princípio da dor e do sofrimento, contudo pensar nisso cansa-me e preferindo ignorar não compreendo a mediocridade de meu ato, sigo passiva à dor, e alheia à poesia como quem consome um alucinógeno compro-me uma bolsa Mandarina Duck.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Acrilic on canvas


"Quando acaba a música apenas fica o ruído

da cidade, o vazio incomensurável da noite.
Desejaria o nada-mais antes que a tua ausência."

(Raimon Gil Sora in: Mounir Troudi)



O inverno chegou um pouco mais tarde naquele ano e muito mais intenso em minha alma, esboço da sala mal iluminada pela claridade de um e outro relâmpago da tempestade que era densa e melancólica, e eu imersa na penumbra me punha a rabiscar um futuro que não existia embora eu esperasse, metáfora do homem solitário que se senta todos os dias no mesmo lugar de sempre a desenhar o corpo nu da mulher que não encontrou e minha alma era desespero e a solidão de um cachorro faminto abandonado à própria sorte nas gélidas ruas da cidade sombria e vazia, e a impotência, a impassibilidade dilaceravam meu coração, e porque à vida lhe agrada amargar o sentido íntimo das coisas o futuro era fosco como a névoa espessa e a fumaça do café perdia-se no escuro apontando a incerteza dos dias de tempestade que viriam.

Desejava fugir, queria ser como um eletrodoméstico com botões, luzes e off, mas a realidade ameaçadora advertia-me como as gotas da chuva na vidraça naquela noite de domingo que foi a mais fria, escura, negra, solitária, aterradora e vazia...

E ainda que em minhas recordações de infância não houvessem bicicletas enferrujadas e mais solidão que antes, consegui encontrar em tua compreensão um espaço íntimo para as minhas plantas e toda a minha desolação e te amei porque me fizeste perceber que éramos dois a ver o cartaz de fechado porque estávamos do lado de dentro, e que para transformar as coisas bastava abrir a porta, sair e enfrentar o temporal.

Hoje faz um ano que encontrei a tua solitária companhia e enquanto escrevo os meus dedos rebuscam a tua pele branca contrastada no azul dos lençóis, e felizes em nossa solidão queda a certeza de que somos dois a contradizer o temporal.

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segunda-feira, 7 de julho de 2008

Caixa de Pandora


“Felizmente existe o álcool na vida”
(Manuel Bandeira. Na boca. In: Estrela da Vida Inteira. pg. 140. Ed. Nova Fronteira)



Encontrei algumas fotos e folhas manuscritas soltas nas caixas empoeiradas da memória. Revivi os dolorosos momentos já esquecidos, mal gravados e apagados como um velho filme e senti outra vez a amargura dos dias sem sol que emboloram a alma e enegrecem os sentimentos, a tristeza e o amargo da solidão e da saudade.
Nem sempre recordações são felizes, e não se pode apagar o passado como se nunca houvera existido.
O pânico domina minha alma que é triste e obscura como a lua semi-encoberta por nuvens negras nas noites geladas do inverno, e a mente atordoada faz-me sentir o desespero adentrar meus ossos, e minhas pupilas dilatadas pelas lágrimas da alma moída, diluída pela possibilidade...
Memórias são torturas...
Desejaria apenas que o presente fora imutável...

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