terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Notícia no jornal



Notícia no jornal

(A Miguel Hernández)


Era o ano da Vitória e tú um homem solitário

e abatido de poucas palavras, os agentes

redatavam o informe para o conselho militar,

e fora o esquecimento das andorinhas errando

o vôo e a primavera um lugar muito triste

para a poesia, um canto de amor desesperado.

Isto se passava em quatro de maio de mil

novecentos e trinta e nove. Hoje, setenta anos

mais tarde, li no jornal que continuas

sendo um homem condenado à morte porque,

afinal das contas, o país não mudou tanto

durante a tua ausência. Ainda sonhamos

sob o mesmo céu cinzento de nossos pais.


(Raimon Gil Sora. Vida Menor. Tradução pessoal)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Biutiful (Alejandro G. Iñarritu. Espanha/México, 2010)

Gostaria de recomendar o filme "Biutiful", do diretor mexicano de origem basca Alejandro G. Iñarritu. Me pareceu uma visão excepcional, beirando ao pessimismo sobre a vida das pessoas comuns, que lutam pelasobrevivência na Barcelona underground. Apesar do que parece, o filme está longe de ser pessimista, é mais bemum drama da vida real, que foge aos estereótipos turísticos da "Barcelona legal", e submerge no mundo verdadeiro, dos que vivem e sobrevivem ali todos os dias. Conta com a insuperável interpretação do exímio Javier Bardem (e protagonista, Uxbal, um homem que cuida sozinho dos dois filhos, porque sua ex mulher sofre de bipolaridade (uma doença mental muito típica na Europa) e vive no subúrbio de Barcelona, sobrevivendo como pode, e que um dia se vê doente terminal. Um filme excepcional que retrata o drama da pobreza e da luta pela sobrevivência, as doenças típicas do século (como a loucura, o câncer e a solidão) e a imigração. Imperdível, sensacional!

Ficha técnica (em espanhol)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Saudade, substantivo abstrato



A definição de saudade, segundo o dicionário Aurélio é "Lembrança nostálgica e ao mesmo tempo suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia". "Pesar pela ausência de alguém que nos é querido".

Não entendo porque a minha saudade é tão diferente dessa definição. A minha é abstrata, vem do coração, da alma, das tardes chuvosas e do aperto no peito quando me ponho a pensar em como construir uma máquina do tempo pra voltar lá, naquele preciso instante, rever as cores, deleitar-me com os olores, os gostos, as sensações, e viver tudo outra vez.

A minha saudade é daquela que dói a dor latente, pungente, a dorzinha agradável que por mais que pese não desejo que se acabe.

Saudade do que foi bom, do que marcou, do que ficou na memória...

Quando torne a perguntar-me Belchior “se você vier me perguntar por onde andei” minha resposta será imediata: Pela memória, meu caro, a morada de minha eterna saudade!

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