sexta-feira, 12 de março de 2010

Saudade

“A minha vida é sempre ontem”
(João Cabral do Nascimento. In: Canção à meia-voz,
Aldina Duarte)



Foto: Valéria Araujo. Torre de Belém, Lisboa.

As ruazinhas minúsculas medievais, os becos e os cheiros que chegavam das pequenas varandas coloridas das roupas nas janelas e os pés de couve plantados nos vasos, o vai-e-vem infinito do bonde antigo que sobe as ladeiras íngremes, o burburinho das conversas entre os vizinhos, e entre um e outro relato de parentes que partiram para não mais voltar e da esperança tão latente na gentileza do povo português, a continuação de nosso saudosismo esperançoso, a esperança desnecessária como as intermináveis ladeiras e escadas que nunca chegam a lugar nenhum.
Lisboa trouxe-me as lembranças de minha infância com as cores dos lenços nos cabelos das portuguesas de eu menina, o cheiro de broa-de-fubá e sardinha assada que saíam daquele mundinho que parece ter parado no tempo, a fala arrastada, a atenção, a hospitalidade e a melancolia do povo português.
A partida deixou algo de mim em Lisboa, algo que talvez houvesse explicado a voz tristíssima de Aldina Duarte, um fado na noite, um nó na garganta, a desesperança das palavras como se tudo que é bom durasse apenas um segundo e o resto fosse esperança e saudade...
Lisboa, fado, saudade...
Eu também sou parte de todo esse mundo, e a saudade latente, e a esperança presente, metáfora do Tejo, o Rio que termina onde começa o mar.

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