segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Postais

“Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.
Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
nem desconfia que se acha conosco desde o início
das eras. Pensa que está somente afogando problemas
dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar
inquietação do mundo!"

QUINTANA, Mario. Projeto Releituras. [online] Disponível na Internet via WWW. URL: http://www.releituras.com/mquintana_bio.asp. Arquivo capturado em 29 de outubro de 2007.


Foto by Valéria Araújo

Alguém entra pela porta da cafeteria, trazendo em seu rastro o vento frio que dissipa a calidez do ambiente revelando-me o vazio de minha alma, e o café esfria na xícara enquanto eu escrevo postais na tentativa desesperada de não ser esquecida no ato de lembrar.

Uma mulher olha para o infinito mexendo mecânica e delicadamente seu café. Talvez sinta solidão, talvez saudade... Solidarizo-me à sua dor, seu olhar perdido se parece com a minha alma, e ao fundo uma antiga canção nos incita a sonhar. O café esfria, e a garçonete me olha com reprovação. O mundo é regrado e frio, mecânico e paranóico e em sua cadência não há espaço para sentimentos e variantes.

Só quem sente saudade é capaz de perceber a dor da ausência e entender que escrevo buscando desesperadamente a imortalidade na memória dos que me lêem e que o café frio não é mais insuportável que o vazio e o medo de outra vez me encontrar a solidão.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Infinito...

“Ah, como esta hora é velha!... E todas as naus partiram!
Na praia só um cabo morto e uns restos de vela falam
Do Longe, das horas do Sul, de onde os nossos sonhos tiram
Aquela angústia de sonhar mais que até para si calam...”

PESSOA, Fernando. Hora Absurda, in Poemes de Fernando Pessoa. Edició Bilingüe pg.26. Ed. Quaderns Crema. Barcelona, 2002.


Foto by: Valéria Araújo. Em Costa Brava, Espanha

Minha saudade é como o atardecer no porto, onde só há lembranças de alegrias e sorrisos entre a canção triste das águas e a nostalgia dos barcos que voltam do dia no mar, gatos que esperam as sobras da pesca e mulheres que esperam por seus homens que nem sempre voltam.

O mar está calmo e melancólico, e sua música triste me deprime. Percebo na imensidão de suas águas a dor da distância, e tenho medo da noite que chega soturna, trazendo consigo silêncio, vazio, frio e escuridão.

Poucas luzes sombrias iluminam o caminho por onde passo, e na penumbra encontro apenas deuses vencidos, frio, solidão e o concerto lúgubre das correntes dos barcos e da água,. Anoiteceu.

Quando amanhecer, o medo da noite será apenas uma lembrança, e uma forma de entender que há beleza em aprender com a solidão do porto e os barcos que partem outra vez.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pedaços

"Plou lentament sobre els carrers, i el s camins
són prou infinits encara. De retorn cap a casa
m´aturaré a escoltar como creix de nou l´herba."

(Chove lentamente sobre as ruas, e os caminhos
sao bastante infinitos ainda. No retorno à casa
me deterei a escutar como cresce de novo a erva.)

GIL, Raimon. Postal des del poble, in Reduccions no.87, pg.37. Eumo Editorial. Barcelona, 2007. Traduçao pessoal a partir do original em catalao.

Foto by Valéria Araújo.2007

(Texto escrito em Janeiro/2007, recuperado nesta data para postagem.)
Através da janela vejo a imensidão do mundo refletido. A cidade é estática, inerte, assombrosa, tal e qual minha postura diante dela.
O mundo mostra sua presença impoluta e intangível através da vidraça e do ferro que nos separa. Pergunto-me se sucumbirei à sua força...
Uma janela me protege da solidão cinza da cidade, e simultaneamente me priva do ar puro do campo. Paradoxo como minhas emoções.
Sinto aflorar um sentimento
conhecido: a dor desesperada da ausência, a dor contrastante de algo que um dia foi alegria e felicidade, e hoje é angústia e desespero
Luto bravamente para não sucumbir, mas parte de mim insiste em sofrer em troca das doses de alegria proporcionadas pela doce lembrança do que um dia foi e hoje não é mais.
As crianças crescem, os velhos morrem, os jovens cantam novas canções. Tudo é parecido, tudo é díspar
. Tudo é sinônimo e adverso. Absurdo e contrastante como minhas emoções
.

Shows em Barcelona