quarta-feira, 2 de março de 2011

Manual de Felicidade

"Quem me consolará desta lembrança?"
(Adélia Prado. AS MORTES SUCESSIVAS. In: Bagagem

(Foto: Raimon Gil. Salamanca, Espanha. Jan/2011)


Eu ando com tanta saudade de casa…
Minha casa, a casa de minha infância, aquela onde fui completamente feliz! Então fecho os olhos e viajo por minhas lembranças, buscando os detalhes, as cores, os cheiros, os sons, lutando para mantê-la viva em minha memória.
Minha casa tem cheirinho de café fresco e de pão quentinho em um fundo de limpeza e a voz de minha mãe dizendo “desce da lua e vem merendar!” (se eu fosse perfumista criaria uma essência desses olores, e a chamaria “felicidade”).
Esse cheirinho transporta-me a um tempo em que eu ainda não conhecia nenhuma das dores da madureza, e quando meu universo era o bairro onde eu morava, e tudo era longe, tanto o centro de São Paulo quanto o Japão pra mim então tinham a mesma distância, meu mundo era minha casa, e a única preocupação que eu tinha era ver se meus experimentos tinham dado certo ou pensar de que eu poderia brincar quando armava chuva.
Também me lembro dos dias de chuva, e principalmente quando somado a isso tinha frio, e a mãe assava batata doce na brasa do fogão à lenha, ateava o fogo e preparava café...
Esse cheiro também está vivo em mim; o do café com gosto de fumaça, de batata doce assada, e o som do pai contando (e rindo) as histórias de sempre de sua infância em Portugal, de seus primeiros anos no Brasil, e escrevendo à giz números nas vigas do telhado. Esses números eram como códigos secretos, as chaves do cofre de suas lembranças e ele sabia o significado de todos como se esses números fossem fotos, arquivos de suas lembranças.
O tempo passa e as pessoas se vão; pra longe, pra perto, pra sempre, mas se vão.
Acho isso muito injusto...
Se eu um dia eu for pro céu perguntarei a Deus por que é que Ele nos dotou de paixão se era para tirar aquilo que mais amamos.

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