segunda-feira, 29 de abril de 2013


Garzón x Fraga e a eterna humilhação das vítimas de Franco


“De todas las historias de la Historia
sin duda la más triste es la de España,
porque termina mal. Como si el hombre,
harto ya de luchar con sus demonios,
decidiese encargarles el gobierno
y la administración de su pobreza”
(Jaime Gil de Biedma. Poeta espanhol)
De todas as coisas espantosas que tenho visto neste mundo, desde que me dou conta, é verdade, creio que a mais inexplicável de todas é o caso Garzón.
É indignante como pessoa, ver os motivos que levaram à condenação de Baltazar Garzón. O juiz que anos atrás foi aclamado por haver conseguido levar Pinochet aos tribunais pelos crimes cometidos durante o período de ditadura no Chile decidiu – como qualquer de nós faria – fazer o mesmo em sua Espanha natal, esquecendo-se que a democratização real deste país nunca houve, a transição foi uma farsa, um teatro montado pelos mesmos franquistas que ainda nos governam!
É repugnante pensar que Baltazar Garzón foi condenado a onze anos de inabilitação para exercer de juiz (motivos dados pelo Tribunal à parte, é só “areia nos olhos”, como sempre) por querer dar voz às vítimas do franquismo, abrir as valas comuns e dar finalmente às famílias um paradeiro de seus mortos. E pagou o preço…
Não existe família na Espanha que não tenha um parente morto, desaparecido ou que tenha sofrido – de uma maneira ou outra – com a ditadura e a Guerra Civil.
O mais asqueroso de tudo isso é pensar que isso aconteceu justamente dois dias depois que o Congresso tenha feito uma homenagem a Manuel Fraga! Fraga, o mesmo que durante o franquismo condenou e coordenou a execução por garrote vil – em minha opinião uma das piores armas de execução existentes – a tantas pessoas, e que ainda vivo, o dinossauro, seguia soltando seu veneno pela língua! Lembro-me da pérola que soltou quando indagado se ele cria que era necessário limitar o poder dos partidos nacionalistas em Espanha, ao que ele respondeu: <>. Só lembrar que “colgando” (o verbo que ele usou) também faz referência a enforcamento, um de seus métodos favoritos.
Com essas palavras o presidente do Congresso Espanhol destacava o “labor” de Fraga:
<> (jornal ABC, 7/02/2012. Trad. pessoal a partir do original em espanhol)
Vale lembrar que a maioria dos partidos de esquerda, com exceção do PSOE (que de socialista e obreiro só tem a sigla) abandonaram o pleito.
É repugnante, encolerizante, não encontro palavras para expressar minha indignação diante desse contexto.
Homenageando a Fraga se condenou duplamente a Garzón. Não foi só Garzón o condenado, o humilhado. Esta sentença é a condenação de todo um povo, de um país, a minha, a de muitos espanhóis – ou não – que têm direito a deixar de sofrer as penas de uma das guerras mais sangrentas da História, e essa homenagem é a humilhação de todos e cada um de nós. É o retrato fidedigno de um mundo, de uma sociedade que homenageia seus monstros e demoniza seus heróis. E de todos nós, no final das contas…

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Oração à Pachamama

Mãe de Deus,
Espírito da tarde,
Filha do Sol,
Irmã da lua,
Mãe do vento,
Senhora dos Andes,
protetora da vida
em todas as suas formas.

Tu que eras a vida,
a magia de viver,
e a certeza de morrer,
és agora o mistério, o silêncio
e a majestade da cordilheira.

Acendias a madrugada de cada dia,
pressentida pelos pássaros e pelos poetas.
Tu acolhias o Sol
cansado e sonolento
a cada entardecer e sobre Ele
estendias mantos de vicunha,
só percebidos pelos índios da cordilheira.

Tu guiavas o índio perdido
quando seus caminhos chegavam ao céu.
Por que te ensombreceste?


Acaso foram as caravelas?
Foi o homem branco,
que tu não criaste?
Foram seus rifles
e as matanças que fizeram
de tua criação?

que de Atahualpa
beberam o sangue

Foram seus deuses ferozes
e usurparam as riquezas?

Pachamama levanta-te:
A natureza é tua.
a humanidade está a tua espera,


Restitui-a a sua antiga grandeza,
precisa de tua bondade e do teu equilíbrio,
e até o homem branco,

pedindo perdão de joelhos,
chorando te agradecerá.


quarta-feira, 28 de março de 2012

Translação de primavera.

"-La ilusión no se come - dijo ella

-No se come, pero alimenta - replicó el coronel."

(García Márquez, Gabriel . El coronel no tiene quién le escriba. Sudamericana. Buenos Aires, 1994. Pg. 71)

Foto: Banyoles. (Raimon Gil Sora.)

Abrir as janelas de casa e deixar que o sol da primavera adentre e ilumine todas as esquinas amortecidas pelo inverno.

A luz sempre volta a aparecer (como a vida mesma).

O gato estirado, buscando o melhor lugar ao sol, os passarinhos cantando no fio, as orquídeas radiantes, o verde mais intenso e a luz natural refletida nos jarros que decoram o ambiente.

Tudo é primaveral. A vida se renova.

http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=cJpB_AEZf6U

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