“Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.
Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
nem desconfia que se acha conosco desde o início
das eras. Pensa que está somente afogando problemas
dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar
inquietação do mundo!"
QUINTANA, Mario. Projeto Releituras. [online] Disponível na Internet via WWW. URL: http://www.releituras.com/mquintana_bio.asp. Arquivo capturado em 29 de outubro de 2007.
Alguém entra pela porta da cafeteria, trazendo em seu rastro o vento frio que dissipa a calidez do ambiente revelando-me o vazio de minha alma, e o café esfria na xícara enquanto eu escrevo postais na tentativa desesperada de não ser esquecida no ato de lembrar.
Uma mulher olha para o infinito mexendo mecânica e delicadamente seu café. Talvez sinta solidão, talvez saudade... Solidarizo-me à sua dor, seu olhar perdido se parece com a minha alma, e ao fundo uma antiga canção nos incita a sonhar. O café esfria, e a garçonete me olha com reprovação. O mundo é regrado e frio, mecânico e paranóico e em sua cadência não há espaço para sentimentos e variantes.
Só quem sente saudade é capaz de perceber a dor da ausência e entender que escrevo buscando desesperadamente a imortalidade na memória dos que me lêem e que o café frio não é mais insuportável que o vazio e o medo de outra vez me encontrar a solidão.