Aquele que nunca passou as horas da noite
Chorando e esperando o amanhecer,
Não vos conhecem, ó poderes celestiais!”
Lembrar o teu sorriso forçoso esboçado no rosto tentando disfarçar os olhos tristes e molhados que eu furtivamente podia ver através dos óculos escuros, o teu coração disparado, o silêncio ensurdecedor, e a tristeza que falava por nós enquanto o carro nos aproximava do final, buscávamos desesperadamente minimizar a dor que sentíamos e expressávamos sem necessitar dizer-nos nada e tuas palavras a consolar-me, como se repetisse-as a ti mesma tentando crê-las “vai passar logo... em pouco tempo estaremos juntas outra vez” arrancam-me os sentimentos mais avassaladores, os gritos mais terríveis da alma nesta tarde fria de primavera.
Nostalgia pelos pingos de chuva no vidro da porta, o piano triste e a imagem das flores lutando para renascer, sorver a chuva que cai, sobreviver ao que restou do inverno se parecem com minha alma que tenta agarrar-se à esperança semi-apagada de seus olhos no aeroporto em nossa despedida.
Sinto-me como o Colosso de Rodhes, projeção do deus Hélio a quem foi impetrado o cruel destino de guardar duas terras, ainda que belo, impetuoso e majestoso por fora, triste, amargurado e desgraçado por dentro diante do trágico destino da privação da escolha, fadado a manter-se em pé, em atitude altiva e reverente vida afora, demonstrando força, orientação, guia, guarda...
Rogo cada dia que os deuses atendam meu pedido, e que eu possa finalmente juntar as duas metades de minha alma na mesma terra, no mesmo chão, que no final de tudo é o que menos importa.